Fomos mal-educados durante o ensino médio. Isso mesmo que você leu. Aprendemos que, como estudantes, tínhamos o direito à meia-entrada em shows, cinemas e eventos, além de pagar apenas metade do valor da passagem no transporte público.
No entanto, ninguém nos explicou que, quando o Estado concede um benefício a uma parcela da população, outra parte da sociedade arca com o custo.
É exatamente isso que acontece com a política do meio-passe: trata-se de uma medida redistributiva — mas não necessariamente justa.
Falar sobre privilégios é sempre delicado. A palavra nem sempre carrega um tom negativo, mas no caso da meia passagem, vale a reflexão.
Quando o estudante paga apenas 50% da tarifa, o restante do valor não desaparece — ele é compensado pelo Estado ou, na maior parte dos casos, diluído no custo da tarifa cobrada de quem não tem o mesmo “direito”.
Em outras palavras, a diarista, o gari e o pedreiro, que dependem do transporte público para trabalhar, acabam subsidiando, mesmo sem perceber, o deslocamento de estudantes de escolas particulares, inclusive daquelas com as mensalidades mais altas do Estado.
Segundo dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), mais de 25% do custo do transporte coletivo é relacionado à concessão de gratuidades ou descontos.
Em cidades como Vitória e Vila Velha, por exemplo, o subsídio por parte do governo estadual não cobre totalmente esse impacto, o que pressiona o aumento da tarifa paga por quem não recebe benefícios.
Isso gera distorções severas: enquanto o estudante de uma escola de elite paga R$ 2,20 na passagem, a auxiliar de serviços gerais da mesma escola, com salário mínimo, paga os R$ 4,40 integrais — e ainda enfrenta ônibus lotado, demora e insegurança.
O mais contraditório é que o critério para o benefício é exclusivamente a qualificação como estudante — e não a renda. Ou seja, o aluno de um colégio bilíngue com mensalidade de R$ 4.000,00 tem o mesmo direito ao meio-passe que o estudante de uma escola pública da periferia.
E quem financia isso? O trabalhador comum, que não participa do debate e muitas vezes sequer usa o transporte coletivo, seja por falta de acesso ou por optar por alternativas mais seguras, como a bicicleta ou o transporte por aplicativo.
A política, portanto, é populista. Os Diretórios Centrais dos Estudantes (DCEs) fazem uma militância barulhenta para manter o benefício a qualquer custo — e, em alguns casos, para ampliá-lo, defendendo até a gratuidade total.
Mas, na prática, essa ampliação implicaria em tarifas ainda mais altas para os demais usuários, sem qualquer melhoria proporcional na qualidade do serviço.
Enquanto isso, o sistema de transporte continua falho, ineficiente e excludente. Quem tem o privilégio quer mais regalias. E quem realmente precisa de ajuda para se locomover, continua à margem do debate — invisível e sobrecarregado.
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